6.1.12

COMO DEMITIR SEM TRAUMAS

Uma pesquisa realizada pelo Grupo Catho, com 1.356 executivos, aponta que o processo de demissão de um executivo costuma durar cerca de três meses. O tempo pode ser maior para altos executivos, profissionais com mais tempo de casa e trabalhadores acima de 50 anos de idade. Muitas vezes o processo de demissão leva meses e, mesmo assim, mesmo com cautela, a empresa e o funcionário não ficam satisfeitos no final.
Essa mesma pesquisa mostra que apenas 31,3% dos executivos que foram demitidos puderam contar com a ajuda da empresa onde trabalharam para encontrar uma nova oportunidade de trabalho.
Como demitir um funcionário sem causar ressentimento e sem macular o nome da empresa? Como dizer a um profissional com uma função até então importante dentro do quadro de funcionários que a empresa agora não está mais satisfeita com o resultado de seu trabalho?
Mauro Danezi, gerente geral da Candle Software do Brasil, define como demissão o produto de um defeito de convivência entre o superior e o funcionário. Ele acrescenta que ninguém pede demissão da empresa, mas sim do chefe, desconsiderando os casos de executivos que largam seus empregos por uma proposta de trabalho melhor. "A empresa geralmente demite por contenção de despesas ou inadequação do profissional ao papel que ele deveria desempenhar. Muitas vezes as pessoas não percebem que o mercado mudou e que elas têm que ter novas habilidades para garantir seu emprego, por isso, quando são demitidas, acham que foram pegas de surpresa".
O momento da demissão pode ser pacífico ou não, dependendo do motivo pela qual a empresa desiste do funcionário. Segundo a mesma pesquisa citada no início da matéria, as cinco razões mais importantes para a demissão são:

*falha na obtenção dos resultados desejados
*falta de competência, tecnicamente considerando
*falta de um bom relacionamento dentro da empresa
*eliminação do cargo
*desonestidade


Mauro Danezi concorda, e acredita que a antiga demissão por justa causa não existe mais. "No nosso atual momento, as pessoas só são dispensadas quando a empresa já tentou todas as alternativas para aproveitá-la, inclusive a recolocação, e por mais incrível que possa parecer, uma empresa também demite quando descobre que determinado profissional é muito bom para o cargo que ocupa".



DEMISSÃO TRAUMÁTICA
O processo de desligamento de uma empresa sempre vem acompanhado de um choque, ou para a empresa ou para o funcionário, e em determinadas situações esse choque pode causar traumas. Veja alguns exemplos de leitores do Jornal Carreira & Sucesso que passaram por isso:

"Trabalhei durante 24 anos no departamento de Recursos Humanos de uma grande empresa de produtos alimentícios. Estava acostumado a contratar e demitir funcionários diariamente. Consegui minha aposentadoria mas continuei trabalhando, durante sete meses, com a autorização da diretoria da empresa. Estava acontecendo uma mudança de diretoria na empresa e o quadro de funcionários sofreria um corte terrível. Um dia um dos diretores me chamou e pediu que eu calculasse a demissão de 20 funcionários que seriam dispensados naquele dia. Nunca me esqueci da frase seguinte: mande essas pessoas embora, faça todos os cálculos e faça, depois, os seus cálculos também. Saí sem mágoas, mas no momento foi um choque. No final do ano ainda fui convidado para a festa de confraternização da empresa, onde me entregaram uma placa de prata enaltecendo o meu trabalho por tantos anos.
L.C.B.
São Carlos - SP"


"Fui demonstradora de vendas durante nove meses num posto de gasolina de uma rede famosa aqui em São Paulo. Fui conquistando confiança dos meus superiores e acabei fazendo parte do setor administrativo da empresa, num cargo de confiança. Eu era contratada de uma agência de promoção, que fazia meu pagamento todos os meses. Depois de nove meses trabalhando, num determinado mês, o pagamento não caiu na minha conta e eu entrei em contato com a agência. Depois de um mês trabalhando sem receber salário, a agência deu um telefone para o meu gerente comunicando que eu e mais 10 funcionários do posto estávamos dispensados. Quando tentei entrar em contato com a agência descobri que ela não existia mais, não estava mais no mesmo endereço e tinha dispensado, no mesmo dia, mais de 200 funcionários naquele dia, com um único telefonema.
Solange
São Paulo - SP"


"Trabalhei durante três anos em uma famosa confecção de artigos esportivos aqui em São Paulo. Fui convidado para trabalhar lá e me prometeram vários benefícios, que não foram cumpridos. Tinha um cargo de confiança lá. Até que um dia o meu superior me chamou e disse que meu salário estava muito alto e que ele iria contratar uma pessoa com a mesma capacidade que eu que ganharia muito menos. Tive que aceitar e ainda ensinei o novo funcionário como fazer todo o meu serviço.
G.L.
São Paulo - SP"


"Trabalhei durante dois anos numa empresa, sempre cumprindo meus horários e sendo elogiado por toda equipe. Éramos em 53 funcionários. Tudo estava indo bem, até que um dia, quando cheguei para trabalhar, encontrei a empresa toda apagada e a porta trancada. Achei estranho e imaginei que alguma coisa ruim poderia ter acontecido. Foi quando me aproximei da porta e vi um papel timbrado da empresa colado na janela, com uma única frase: a partir da zero hora de hoje essa empresa não existe mais. Parece mentira, mas infelizmente isso aconteceu!
M.F.
São Paulo - SP"


Os depoimentos acima confirmam outro dado da pesquisa do Grupo Catho: as empresa são cruéis em 24% das demissões - em 52% dos casos, as empresas exigem que o funcionário demitido deixe a empresa imediatamente.
A explicação de Mauro Danezi para os traumas ocorridos no processo de demissão está na ilusão que a pessoa tem que ela existe somente por causa do trabalho. Quando o emprego deixa de existir, ela acredita que não tem razão nenhuma para continuar vivendo. "É comum pessoas que trabalham durante 10 anos ou mais em uma empresa não perceberem que estão correndo o risco de serem demitidas. Acham que têm lugar garantido ali para sempre."
Mauro alerta ainda que é importante ficar atento aos sinais que a empresa costuma dar de que a relação entre funcionário e empresa não estão mais se entendendo.
Algumas empresas preferem, em vez de demitir, exercer pressão para que o funcionário se demita. "Já vi superior estipulando metas impossíveis para aqueles funcionários que ela quer demitir, e já vi planos maquiavélicos, onde a empresa mostra projetos e deixa claro, em reuniões, que determinado funcionário não está incluído ali.", exemplifica Mauro. "A pior coisa que um funcionário pode sentir é que não exerce mais nenhum papel dentro da empresa", complementa.

DEMISSÃO SEM TRAUMAS
Às vezes a empresa tem cautela na hora da demissão, mas mesmo assim pode deixar seu ex-funcionário insatisfeito. Vale a pena arriscar e tentar cumprir algumas dicas, sugeridas por Mauro Danezi:

*alguém tem que fazer a demissão e, se não tem outro jeito, o funcionário deve ser chamado para uma reunião particular, onde será traçado um plano de carreira e analisada a possibilidade de fornecer um plano de acompanhamento de carreira
*a notícia tem que ser dada olhando no olho do funcionário, e pessoalmente
*o funcionário dispensado deve ser o primeiro a receber a notícia da demissão
*se existir amizade entre superior e funcionário, os dois devem ter uma postura profissional, deixando claro que aquele momento não irá interferir na amizade dos dois
*nunca demitir na véspera de um feriado, na saída ou chegada de férias e nem na sexta-feira. A melhor opção é a segunda-feira, pela manhã, porque assim o funcionário terá tempo de arrumar suas coisas, se despedir dos colegas e terá a semana inteira para pensar no que irá fazer
*é importante ter sempre o médico da empresa de plantão e, em alguns casos, para profissionais com perfil agressivo, manter o sistema de segurança da empresa alerta

No livro "Como se comunicar com eficácia" (American Management Association, Editora Campus), aparecem dicas interessantes de demitir sem traumas.

Demitir um funcionário de sua equipe talvez seja uma das decisões mais desagradáveis a serem tomadas. A menos que ele tenho feito algo imperdoável (como, por exemplo, roubar a empresa ou ter colocado a vida de algum colega em perigo, intencionalmente), esta é uma decisão que só deve ser tomada depois de várias tentativas de reabilitação do funcionário. Ainda assim existe a possibilidade de que ele se sinta injustiçado com a decisão.
Na hora de demitir, não tente provar que estava certo nem tampouco justificar sua atitude. Não censure ninguém; apenas aja da forma mais profissional possível, sem ressentimentos.
Embora seja tentador demitir em uma sexta-feira, ao término do expediente, saiba que este é o pior momento para se dar este tipo de notícia. Notificar o funcionário logo no início da semana, na parte da manhã, lhe dará tempo para colocar suas coisas em ordem, fazer as perguntas cabíveis e se despedir dos colegas - ele não precisa esperar o dia seguinte ou todo o final de semana.
Além disso, se você agir assim o funcionário não se sentirá explorado. Ele sabe que você já tomou esta decisão há algum tempo e dar este tipo de notícia no final do expediente pode parecer que você o está sugando ao máximo antes de comunicar sua decisão de demiti-lo.
Sempre que demitir alguém, certifique-se de dispor de todas as informações necessárias sobre auxílio-desemprego, pagamento de férias não usufruídas etc. Marque uma reunião do funcionário com o departamento de pessoal e informe-o a respeito.
Se você estiver conversando com o funcionário sobre seu desempenho e relatando os motivos de sua demissão, não é necessário falar sobre cada infração cometida, que resultou na decisão de demiti-lo. Deixe o funcionário falar como se sente a respeito da demissão, mas não se sinta na obrigação de apresentar argumentos. Se possível, tenha esta conversa na sala dele ou em um lugar neutro, de modo que você posa se retirar se o funcionário tornar-se inconveniente ou insistir em negociar sua decisão.
A menos que você esteja realmente aberto à possibilidade de voltar atrás em sua decisão, sequer discuta esta possibilidade. Isto só serve para dar falsas esperanças ao funcionário, prolongando a conversa sem necessidade.
Ao término da conversa, você deve expressar seu desejo de que ele encontre um novo emprego, para o qual esteja mais bem preparado. Não deixe nenhuma dúvida de que o está demitindo. Alguns supervisores ficam tão preocupados em não se mostrar severos demais ao demitir alguém que a pessoa sequer percebe que está sendo demitida. Seja firme em sua decisão, mas seja também polido.

Ana Paula Ruiz é repórter do Jornal Carreira & Sucesso.



Fonte:COMO DEMITIR SEM TRAUMAS – Reportagem - Jornal Carreira e Sucesso